Fayga Perla Ostrower (Lodz, Polônia 1920 - Rio de Janeiro RJ 2001). vem para o Brasil e se estabelece na cidade do Rio de Janeiro. Na década de 1940, a artista realiza gravuras figurativas, de linguagem expressionista e cubista, como ocorre em Lavadeiras (1947), tratando freqüentemente de temas sociais. Trabalha tanto com gravura em metal quanto com xilogravura, técnica que prevalece durante sua primeira individual, em 1948. Está na mostra Master Brasileiros, no Museu de Arte de Joinville.
Fayga conta que, "No começo dos anos 50, já haviam acontecido as primeiras bienais, mas a arte moderna ainda era um escândalo. Eu mesma levei algum tempo para compreendê-la. O meu trabalho começou figurativo - os dez primeiros anos são figurativos. […]
Mas, de 1950 até 1954, lentamente fui mudando de estilo - eu devia estar buscando alguma coisa. Na época, ganhei de presente dois livros sobre Cézanne. […]
Levei quatro anos descobrindo Cézanne, tentando compreendê-lo, e a partir dele compreendi o cubismo. Eu mesma nunca tentei ser cubista. O meu caminho me levou diretamente para a arte abstrata. […]"
Em 1955, viaja para Nova York como bolsista da Fulbright Comission. Trabalha no Brooklyn Museum Art School e estuda gravura no Atelier 17, de Stanley William Hayter (1901 - 1988). Em 1969, a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro publica um álbum de gravuras realizadas entre 1954 e 1966. A partir da década de 1970, dedica-se também à aquarela. Publica vários livros sobre questões de arte e criação artística, entre eles Criatividade e Processos de Criação, 1978, Universos da Arte, 1983, Acasos e Criação Artística, 1990, e A Sensibilidade do Intelecto, 1998. Em 1983, é realizada retrospectiva dos 40 anos de sua obra gráfica, no Museu Nacional de Belas Artes e, em 1995, a exposição Gravuras 1950-1995, no Centro Cultural Banco do Brasil - CCBB, no Rio de Janeiro. Em 2001 é lançado pela GMT Editora o livro Fayga Ostrower, organizado por Carlos Martins.
“Até 1960, só quem fazia gravura abstrata era eu. Havia vários grupos de gravadores figurativos, uns de uma linha mais realista e outros de uma linha mais expressionista, como o Darel e a Edith Behring. Só depois é que surge uma nova geração de gravadores e muitos deles, não todos, vão para a arte abstrata. Mas, por exemplo, o Grassmann nunca deixou de ser figurativo. Ele é um grande gravador. Essa linha nunca deixou de existir. [...]
"Senti, porém, que era aquilo mesmo que eu tinha que fazer. Não havia saída, não podia voltar. Meu último trabalho figurativo, do qual não tenho nem cópia, tratava de retirantes. Diante dele, senti que não podia ir adiante na arte figurativa, certos temas eu não conseguia mais resolver. Comecei a questionar temas como a fome, a miséria, a bomba atômica, um campo de concentração e o comentário artístico que se podia fazer sobre eles. Para mim, Käthe Kollwitz conseguia dizer alguma coisa, mas era ainda em circunstâncias diferentes. A última pessoa a dizer ainda algo sobre a guerra foi Picasso, em Guernica. Não conheço uma obra de arte que realmente tenha podido abordar um problema social, fazer uma crítica, e esclarecer a consciência das pessoas através da arte. O que você podia dizer diante da fome em Biafra? Dá para fazer um comentário estético?"
Havia [...] duas posições diferentes. Do ponto de vista estilístico, a crítica de arte apoiou muito mais o movimento geométrico da arte do que o movimento não geométrico, mais livre, mais gestual, chamado de tachismo, sobretudo a partir de Mário Pedrosa, Ferreira Gullar e Faustino, do Jornal do Brasil. Eles deram apoio, tentando interpretá-la e torná-la mais acessível ao grande público, mas na realidade, do ponto de vista do espectador, uma era tão incompreensível quanto a outra".
Fayga Ostrower/Sesc Tijuca
30 de outubro de 1986 e 26 de agosto de 1997