A linda casa construída por Ottokar Doerfell, em 1864, abriga o MAJ - Museu de Arte de Joinville, desde 1976. Reaberto no Dia Nacional dos Museus, neste 18 de maio, duas esculturas que fazem parte do acervo, estão em destaque na exposição Master Brasileiros, nunca vistas pela grande maioria dos joinvillenses.
Contemporâneas, ambas nascidas em 1920, Lygia Clark (Belo Horizonte, 1920 – Rio de Janeiro, 1988) e Edith Wetzel (Joinville 1920 – 2014), revelam suas dramaticidades de maneiras muito distintas através de suas obras.
Edith foi a única aluna do escultor alemão Fritz Alt (Lich, 17.09.1902 — Joinville, 15.03.1968). Morreu poucos dias após ser levada pelo amigo Otto a ver sua obra Pequeno Caçador numa das salas do museu. Lá permanece o menino, em evidência, atento, procurando, perseguindo, buscando, para sempre.
Em outra sala está Envolvente e Envolvido, da série “Trepantes”, uma derivação da questão espacial da série “Bichos” de Lygia Clark. “Bichos” são esculturas em alumínio, com dobradiças, que permitem a articulação das diferentes partes que compõem seu “corpo”. O espectador, agora transformado em participador, é convidado a descobrir as inúmeras formas que as estruturas oferecem, ao manusear suas partes metálicas.
“Trepantes” não possuem dobradiças. São chapas de aço e latão, cobre ou borracha recortadas que partem sempre de formas circulares chegando ao resultado orgânico do espaço, podendo ser enroscadas em pedras, galhos ou grandes árvores. As obras são constituídas, simbolicamente, por uma fita de Moebius, uma situação limite e o início claro de num novo paradigma nas Artes Visuais brasileiras. O objeto não estava mais fora do corpo, mas era o próprio “corpo” que interessava a Lygia.
Tampouco o Pequeno Caçador possui dobradiças. Obra clássica, esculpida em base sólida, parece atribuir ao menino a responsabilidade de conquistar seu próprio destino. A beleza e a virtude se encontram em sua expressão entre a realidade e a subjetividade. Edith Wetzel transitou pelas artes por quase oito décadas, pintando telas e porcelanas, esculpindo, muitas vezes, de maneiras contraditórias. "Não sei como controlar todas essas mudanças", confessou Edith. "Às vezes, eu olho para cada trabalho e me pergunto: fui eu que fiz isso?"
Em 1961, Lygia Clark ganha o prêmio de melhor escultura nacional na VI Bienal de São Paulo, com os “Bichos” e chega a ser o ícone da herança construtivista no Brasil. Hoje, Bichos e Trepantes estão incluídas na expo Lygia Clark: O Abandono da Arte, 1948–1988, primeira grande retrospectiva de Clark nos EUA – aberta neste 10 de maio no MoMA - Museu de Arte Moderna, em Nova York. Reinscreve a obra da artista no discurso atual sobre abstração, participação e práticas de arteterapia.
Master Brasileiros no Museu de Arte de Joinville é marco relevante para a história da arte da cidade. Como lugar de memória, pesquisa, aprendizagem e cidadania, o MAJ precisa perseguir sua missão. A recuperação parcial de seus espaços não garante seu legado. A reserva técnica onde mora o acervo, a biblioteca e o espaço de recuperação e conservação de obras foram levados para a Cidadela Cultural e não estão a salvo. Projetos de restauro e melhoramentos do museu aguardam na fila das prioridades das Secretarias. A educação é o único caminho para a justiça social. E a arte tem sido apontada por especialistas como um dos importantes elementos para o desenvolvimento dos sensos crítico e estético, da criatividade, da curiosidade e da autoestima, especialmente, para as crianças. Quem sabe uma iniciativa público-privada seja o caminho seguido por tantas instituições de sucesso, na manutenção do patrimônio histórico e cultural de um povo.