A pintura do brasileiro Siron Franco tem sido associada por alguns críticos à produção do artista inglês Francis Bacon (1909 - 1992), por ser povoada por seres monstruosos ou por revelar uma dimensão aterrorizadora. Nos quadros da série "Césio" (1987), concebidos com uma gama muita restrita de pigmentos, o pintor comenta, no calor dos acontecimentos, a tragédia ocorrida em Goiânia, ocasionada pelo vazamento de material radioativo.
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Em obras do fim da década de 1990, o artista passa de uma figuração mais evidente para a utilização de grandes planos cromáticos, em obras quase abstratas, nas quais emprega diversas técnicas: colagens, desenhos e grafismos. Para Siron Franco "a arte tem a finalidade de tentar dias melhores para o homem". Ele afirma: "eu tento, ao meu modo, testemunhar a minha época, o que faço é uma crônica subjetiva da época em que vivo".
Salvai nossas Almas I, 1999, faz parte do acervo do Museu de Arte de Joinville. Escolhida para compor a exposição Master Brasileiros, aberta em 18 de maio deste ano, a obra é uma aglomeração de roupas e radiografias coladas sobre lona. A vida é intrínsica à obra, está revelada nos seus elementos como material da arte.
FRANCO, Siron
Salvai nossas Almas I, 1999, da série Césio 137
Técnica mista: roupas e radiografias coladas sobre lona
212 x 286 cm
Museu de Arte de Joinville, SC
Doação Instituto Arte na Escola – Fundação Iochpe
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Para marcar a presença do projeto Arte BR no Contexto Escola/Museu na cidade, e a inclusão do MAJ num programa nacional, o Instituto Arte na Escola e a Fundação Iochpe doaram ao centro cultural a instalação do artista plástico goiano Siron Franco "Salvai Nossas Almas I”. A iniciativa, segundo a diretora do espaço na época, Marina Mosimann, teve efetiva participação da arte-educadora e artista plástica Ivane Carneiro, ex-funcionária do MAJ, Nadja Lamas, Silvia Pilotto e Letícia Mognol - do departamento de artes visuais da Universidade da Região de Joinville (Univille), representantes nacional e locais do Arte na Escola, que viram na proposta uma forma de dinamizar o museu e o ensino da arte no Norte catarinense.
Sobre a idéia de fazer uma série sobre o Césio 137, Siron franco explica: “Eu estava morando em São Paulo quando soube do acidente e vim para cá. Liguei para o (Fernando) Gabeira, Lucélia Santos e Ney Matogrosso para fazermos uma passeata aqui em Goiânia e um show no Rio de Janeiro para explicar que a não era a cidade inteira contaminada. Como eu tinha morado mais de 20 anos no bairro em que aconteceu a tragédia, comecei a fazer desenhos e ilustrações para correspondentes estrangeiros. Fiquei revoltado quando soube que estavam chutando carro de goianos em outros lugares e achando que todos estavam contaminados. Eu fiz 108 desenhos, que compõem uma reportagem visual. Eu retratei os urubus, os calangos, o fusca abandonado, as aves. Quando você lida com fogo ou com água, você vê a coisa. Radioatividade é invisível. Os catadores de lixo não queriam ir lá. E com razão porque ninguém sabia direito como era aquilo. Eu criei uma máscara e fizemos uma grande passeata. Depois criei uma exposição e levei para São Paulo. Todo mundo tinha medo de chegar perto. Aí veio uma crítica chamada Bélgica Rodrigues, que era presidente da Associação Internacional dos Críticos de Arte, e escreveu um artigo nos Estados Unidos elogiando demais essa série. Outros também começaram a escrever e ela ficou muito famosa. Ela continua viajando o mundo até hoje e vamos fazer um livro desse trabalho. Isso tudo vai parar no Instituto Siron Franco, que eu estou criando para cuidar do meu trabalho e dar espaço para jovens artistas de Goiânia. Já era para ter sido feito, mas fui roubado 11 vezes. Virou notícia no Jornal Nacional. Tem irmãos e sobrinhos envolvidos, gente que eu ajudei. Foram vários boletins de ocorrência. Roubaram tudo que eu tinha guardado. Conversando com amigos advogados, resolvemos fazer um instituto. Então estou refazendo meu acerto para doar tudo novamente para a cidade.